quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Olimpismo - Muito feio para o COB

Em razão do tempo reduzido, comentarei em outro post.

Extraído do blog de Juca kfouri em 04/02/10.


Como se pode ler ao final, o citado jornalista extraiu tais textos
dehttp://cev.org.br/, onde outros mais poderão ser vistos.



PELO DIREITO OLÍMPICO DE SE ESTUDAR E PESQUISAR ESTUDOS OLÍMPICOS NO
BRASIL


POR KATIA RUBIO,professora daEscola de Educação Física e Esporte da
Universidade de São Paulo

Desde que ingressei na Universidade de São Paulo como docente fui
posta à prova em um processo seletivo, três concursos, além das bancas
de mestrado, doutorado e livre docência.

Essa é a razão de ser da vida acadêmica. Sem contar na participação
dos inúmeros editais que concederam auxílios ou bolsas aos projetos de
pesquisa que desenvolvo. Com isso quero dizer que estou acostumada a
ser avaliada e julgada de forma quase que ininterrupta há muitos anos.

Penso que aceitei o desafio da vida acadêmica porque fui criada e
educada dentro do esporte. Aprendi ao longo da minha vida esportiva
que o sucesso é o resultado de um processo que envolve dedicação,
disciplina, determinação e que perder e ganhar faz parte do jogo. Nem
sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar, já
cantava Elis. Tive a felicidade de contar com excelentes professores e
técnicos que apontavam a todo instante a fundamentação ética dessa
atividade, sem necessariamente evocar essas palavras.

Talvez venha daí o meu compromisso como pesquisadora e educadora: tive
grandes mestres que adotaram uma pedagogia mimética e me inspiraram a
fazer o mesmo.

Quando me dediquei ao estudo, ensino e pesquisa da Psicologia do
Esporte e dos Estudos Olímpicos os fiz porque tinha a convicção da
importância que esse fenômeno representa para a sociedade. Isso não é
nenhuma novidade, uma vez que Thomas Arnold, no século XIX já havia
observado essa possibilidade na sociedade inglesa da época e pautando-
se nessa convicção fundou a Rugby School. Dessa experiência pedagógica
resultou a obra Tom Brown’s Schooldays. Hughes foi aluno de Thomas
Arnold na escola de Rugby, marco da institucionalização do esporte nas
escolas inglesas, e na obra Tom Brown’s relatou de forma romanesca e
apaixonada o cotidiano e as preocupações de uma pedagogia pelo
esporte. Essa foi uma das obras que inspirou o Barão Pierre de
Coubertin a edificar seu ideário olímpico, tema central dessa
manifestação.

O estudo do fenômeno olímpico me inspira de diferentes formas, seja
por seus aspectos macro que envolve a história, bem como as questões
sociais e filosóficas, até seu âmbito mais específico relacionado
basicamente à psicodinâmica do atleta e das equipes esportivas.
Entendo que reside na compreensão desse continun – sujeito-sociedade –
o sucesso de uma intervenção que não é apenas clínica, mas
essencialmente social.

Vejo "milagres" sociais serem operados por meio do esporte, e não
apenas o olímpico, mas afirmo que é o esporte olímpico que fornece
muitos grandes exemplos para que milhões de crianças desenvolvam o
desejo do vir a ser. E é nisso que eu aposto minhas fichas, minha
energia de vida e meu vigor acadêmico: no estudo do fenômeno olímpico
e em suas reverberações em diferentes indivíduos, sejam eles crianças
ou adultos, que se refletirão nos movimentos da sociedade de forma
mais ampla.(...)

(...)Há anos estamos trabalhando na realização de projetos de educação
olímpica em consonância com o pensamento de Pierre de Coubertin.
Pensei que a realização dos Jogos Olímpicos no Brasil fosse o momento
oportuno e privilegiado para multiplicarmos essas ações que já ocorrem
dentro de uma perspectiva de educação não-formal e informal. Nós da
área acadêmica temos essa estranha mania de ter fé na vida e acreditar
em coisas improváveis ou mesmo impossíveis.

Na última quinta-feira, 28 de janeiro de 2010 tomei contato com um
documento do Comitê Olímpico Brasileiro que me informa que devo
recolher o livro Esporte, educação e valores olímpicos. Essa notícia
além de me surpreender me causou enorme espanto por conta das
alegações utilizadas para tal. Conforme o documento "o uso dos termos
‘olímpico’, ‘olímpica’, ‘olimpíada’, ‘Jogos Olímpicos’ e suas
variações… são de uso privativo do Comitê Olímpico Brasileiro no
território brasileiro."

Voltamos ao tempo da Inquisição onde apenas os iniciados poderiam
fazer parte dos mistérios e os livros e publicações indexados deveriam
ser expurgados impingindo aos descuidados o calor das chamas das
fogueiras? É sempre bom lembrar que Hitler também fez suas escolhas de
obras indexadas e termos permitidos.

O livro Esporte, educação e valores olímpicos foi gestado muito antes
do anúncio da candidatura do Rio de Janeiro, uma vez que não tínhamos
em nosso país nenhuma obra dedicada aos jovens para tratar do tema
Olimpismo. Criei também um guia didático para uso dos professores em
sala de aula apontando como usar o material como tema transversal,
aproximando assim nossa tão desrespeitada educação física escolar de
disciplinas "nobres" como a língua portuguesa, história, geografia,
biologia etc.

Como diria Luther King "I have a dream" e continuarei a tê-lo,
independente da ação do COB. Meu sonho continua vinculado ao país que
tenho e ao país que desejo ter, e como o esporte pode contribuir para
essa realização.

Publicar livros é dever de ofício de pesquisadores, principalmente das
ciências humanas, e esse último é mais um entre os muitos que ainda
pretendo publicar sobre o tema olímpico. Tenho um livro no prelo sobre
as Mulheres Olímpicas Brasileiras. Que faço diante disso? Nomeio o
inominável ou deixo que pisem as flores de meu jardim como no poema em
homenagem a Maiakovsky?

"[...]
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da
garganta.
E já não podemos dizer nada.
[...]"


Conto com o apoio de todos aqueles que estudam, pesquisam, ensinam e
publicam sobre Olimpismo, Educação olímpica, Valores olímpicos, Ideais
olímpicos, Imaginário olímpico, os deuses olímpicos não atletas, os
heróis olímpicos de hoje e da Antiguidade para que essa forma de
censura não se abata sobre nossas produções, para que prevaleça a
liberdade de pesquisa e de expressão e para que o conhecimento possa
chegar a toda a sociedade, saindo dos círculos restritos da
universidade e contribuindo para uma sociedade mais justa e um país
melhor.

Se de alguma forma essa notícia também lhe causa perplexidade escreva
para:

carlos.nuzman@cob.org.br

andre.richer@cob.org.br

presidência@cob.org.br

e manifeste sua opinião.





A Família Olímpica


POR GUSTAVO PIRES,professor da Universidade Técnica de Lisboa

Há pessoas que no âmbito do Movimento Olímpico se julgam no direito de
decidir quem pode e quem não pode dedicar-se ao estudo e à
investigação das questões do Olimpismo. Na sua profunda ignorância e
pesporrência estão convencidos que são proprietários de algo que os
transcende. Quer eles queiram quer não, o Olimpismo é propriedade da
Humanidade e não de uma qualquer casta que numa atitude profundamente
xenófoba se gosta de chamar a si própria de "família olímpica".

Em Portugal, os dirigentes do Comité Olímpico de Portugal (COP) também
se julgavam no direito de decidir quem podia ou não utilizar as
palavras olímpico, Olimpismo ou, entre outras, Jogos Olímpicos,
convencidos de que eram proprietários não só dos conceitos em si, como
das próprias palavras que pertencem, como qualquer pessoa de bom senso
sabe, à língua portuguesa e aos seus falantes.

Em conformidade, pretenderam acabar com uma organização de seu nome
Fórum Olímpico de Portugal.

Para o efeito, contrataram um dos maiores escritórios de advogados do
país mas o tiro saiu-lhes pela culatra.

Os Tribunais portugueses decidiram que a lei não lhes concedia o
monopólio do uso das palavras pelo que o Fórum Olímpico de Portugal
continua de boa saúde a produzir conhecimento na área do Olimpismo.

Entretanto, tomamos conhecimento que o Comité Olímpico Brasileiro
(COB) quer obrigar uma investigadora da Universidade de São Paulo de
seu nome Kátia Rúbio que investiga e publica há vários anos sobre a
problemática do Olimpismo, a recolher o seu último livro intitulado
"Esporte, Educação e Valores Olímpicos"! Tal como cá, os caras lá do
Brasil também se julgam proprietários das palavras olímpico, olímpica,
olimpíada, Jogos Olímpicos e suas variações...!!!

Há uns anos, tivemos a oportunidade de assistir no Rio de Janeiro a
uma conferência sobre Olimpismo proferida precisamente pelo presidente
do COB.

O que a generalidade das pessoas no fim da conferência comentou foi
que o cara falou de dinheiro, de muito dinheiro, de marketing, de
investimentos e de todos os termos possíveis e imaginários na área
económica e financeira, contudo, ninguém o ouviu falar de Olimpismo,
de valores do desporto, de educação ou de desenvolvimento humano.

O problema é que, como a generalidade dos dirigentes do Movimento
Olímpico não fala sobre o Olimpismo e os seus valores, quer obrigar os
outros a fazer o mesmo.

Não poderá Lula da Silva meter o sujeitinho na ordem.

Em Portugal foram os Tribunais através dos doutos acórdãos dos juízes
que o fizeram.

O processo pode ser consultado em:www.forumolimpico.org

Veja mais emhttp://cev.org.br/, de onde este blog extraiu os dois
escritos acima.

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