quarta-feira, 11 de junho de 2025

NOTA À IMPRENSA DA ASSESSORIA DE LAYSA PEIXOTO SENA LAGE

 

Após cursar o ensino médio técnico em Informática na FUNEC, ingressou na Universidade Federal de Minas Gerais, no curso de Física. A matrícula foi feita após o Enem 2020, com os estudos sendo iniciados em 2021 devido a pandemia. Laysa permaneceu na UFMG de 2021 a 2023, quando se transferiu para a Manhattan College (Manhattan University), em Nova Iorque, Estados Unidos. 

Durante sua formação, participou do programa NASA L'Space, aberto a jovens estudantes e profissionais da área, com objetivo de aprendizado de propostas tecnológicas para a NASA. Durante o curso, os alunos desenvolvem propostas de projetos de estudo, e o de Laysa Peixoto foi aceito -  Project Investigator - AquaMoon, NPWEE, Proposal para a Nasa. 

Em um post em 2023 no Instagram, Laysa postou uma foto mostrando o nome do programa e nunca afirmou que trabalhava para à Nasa, mas que liderava equipes no programa L’SPACE. A participação no programa L'Space gera dois certificados: Nasa NPWEE e Nasa Mission Concept Academy. 

Em 2022 Laysa concluiu o curso Advance Space Academy, feito no Alabama, um treinamento que acontece no Marshall Space Flight Center e U.S. Space and Rocket Center, que contou com a presença do Astronauta Larry DeLucas na formatura da Expedicao 36 do Advanced Space Academy. 

Laysa também possui os seguinte cursos de formação no MIT: Machine Learning, Modeling, and Simulation Principles - ministrados online. 

Laysa foi selecionada pela Titan Space para se tornar uma astronauta de carreira, atuando em voos espaciais tripulados para estações espaciais PRIVADAS e para futuras missões tripuladas a lua e para Marte. O único vinculo indireto do vôo em relação à NASA, é que será comandado pelo astronauta veterano Bill McArthur. Vale esclarecer que somente cidadãos americanos podem ser selecionados como astronautas de carreira da NASA.   

No dia 11/06/2025, o site da Titan Space se encontra desatualizado, informação confirmada através do representante da Titans Space, Neal Lachman, que também confirmou a entrada de Laysa na formação da empresa.

Outras conquistas relevantes: 

Medalha de Mérito do MCTI e do Patrick Miller da NASA/IASC pela detecção do Asteroide 2021 PS59, recebida por Marcos Pontes na época, mérito Educacional Carlos Drummond de Andrade,na Câmara de Contagem, em 2021. 

Medalha de Prata na Olimpíada Brasileira de Astronomia e selecionada para a etapa internacional (2020-2021). 

Bolsa de estudos para piloto pela empresa VelAir, em Belo Horizonte, através de certificados e méritos acadêmicos. 

Selecionada em 2023 para ir a Washington DC, participar de um encontro regional de jovens líderes da United Nations Foundation com sponsorship.

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No anúncio feito no Instagram, a única declaração dada até o momento(11/06), não tendo conferido nenhuma entrevista até então, Laysa explica que foi selecionada como astronauta pela empresa privada Titans Space. 

Em nenhum momento existe uma citação a NASA, ou que seria uma astronauta da agência. O post nunca foi editado. 

Está explícito e claro: Laysa foi selecionada para se tornar astronauta de carreira pela Titans Space, que terá como comandante da missão, Bill McArthur, um astronauta veterano da Nasa - única menção feita sobre a NASA no post. 

Em post feito em 23/05/2023, em que Laysa segura o laptop mostrando o nome específico do programa da Nasa do qual participou, o L’SPACE Academy, foi confirmada a sua participação pelo NASA L’SPACE Program.

terça-feira, 29 de abril de 2025

Globo 60 anos: A história de um país que se conta na tela

 

Globo 60 anos: A história de um país que se conta na tela

No dia em que a Globo completou 60 anos, não celebramos apenas uma emissora de TV. Celebramos — e também debatemos — a história de um país. Porque falar da Globo é, gostemos ou não, falar da construção da identidade nacional brasileira. 🇧🇷📺

Desde sua primeira transmissão em 26 de abril de 1965, a Globo foi muito mais do que uma empresa de comunicação: ela ajudou a moldar hábitos, sonhos, valores e contradições de um Brasil em eterna formação. A TV Globo cresceu enquanto o Brasil urbanizava, deixava de ser rural, tentava se industrializar, tropeçava em golpes, redemocratizações e crises.

Fatos históricos: O Brasil sob as câmeras

A Globo foi o grande palco da vida brasileira. E esteve presente — para o bem e para o mal — em momentos decisivos:

  • 🔵 Ditadura Militar (1964-1985): A relação da Globo com o regime militar foi de apoio nos primeiros anos. Seu crescimento vertiginoso nos anos 70, com o projeto de satelitização e nacionalização da rede, teve o aval dos militares. Um erro histórico que, anos depois, a própria emissora reconheceu com autocrítica.

  • 🟠 Diretas Já (1984): Inicialmente, a Globo tratou as Diretas com frieza jornalística, cobrindo grandes manifestações como meros "comícios". Foi muito criticada por isso. Mas também é fato que, nos anos seguintes, virou um dos símbolos da redemocratização com coberturas históricas como a eleição de Tancredo Neves.

  • 🔴 Debate Collor x Lula (1989): Talvez o episódio mais polêmico de todos. A edição do debate entre Fernando Collor e Lula no Jornal Nacional, considerada por muitos como tendenciosa, é até hoje lembrada como um dos momentos mais delicados da história da TV brasileira. Um erro que também ensejou reflexões dentro da emissora.

  • 🟢 Impeachment de Dilma Rousseff (2016) e crises recentes: A Globo, novamente, teve protagonismo. Suas coberturas geraram aplausos e críticas, em um país cada vez mais polarizado.

Programas e artistas que marcaram o Brasil

Não há como contar a história cultural brasileira sem passar pela Globo:

  • "Jornal Nacional" (1969) - Primeiro telejornal nacional em rede, que se tornou o principal ritual informativo do país.

  • "Fantástico" (1973) - Misturando jornalismo e entretenimento, virou um laboratório audiovisual de criatividade.

  • "Globo Repórter", "Linha Direta", "Você Decide" - Programas que inovaram a forma de fazer TV.

  • Telenovelas como Irmãos Coragem (1970), Roque Santeiro (1985), Vale Tudo (1988), Avenida Brasil (2012) — que não só divertiram, mas também debateram ética, política e desigualdades sociais.

  • Minisséries como Anos Rebeldes (1992) — que ajudaram a revisitar a história da ditadura militar com emoção e consciência crítica.

E quantos talentos a Globo revelou ou consolidou:
Chico Anysio, Glória Pires, Tony Ramos, Fernanda Montenegro, Fausto Silva, Renato Aragão, Xuxa, Galvão Bueno, Renata Vasconcellos, William Bonner, entre tantos outros. 🎭✨

Erros, acertos e a força de um símbolo nacional

A Globo acertou ao investir em qualidade técnica, formar uma indústria audiovisual de primeiro mundo no Brasil, exportar nossas novelas, retratar nossos sotaques e culturas regionais (ainda que nem sempre tenha feito isso de forma perfeita).
Errou ao se alinhar demasiadamente a determinados governos, ao recontar certas histórias a partir de perspectivas limitadas, e ao demorar para se abrir mais à diversidade racial e regional.

Mas o maior legado da Globo talvez seja este:
Ter nos dado um espelho. Um espelho às vezes distorcido, às vezes doloroso, às vezes bonito — mas um espelho de nós mesmos.

Se hoje discutimos a Globo, criticamos, cobramos ou admiramos, é porque ela conseguiu o feito raríssimo de ser parte viva da alma brasileira.

60 anos depois, a Globo ainda é muito mais do que uma emissora: é uma construção coletiva da nossa memória nacional. E como toda memória viva, cheia de contradições, emoções e esperança.

Parabéns, Globo. E obrigado por ter contado — e ter nos feito contar — tantas vezes a nossa própria história. 

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Brasil no Conclave: quem são os cardeais brasileiros cotados para suceder Francisco e o que pensam sobre temas polêmicos

 


Com a morte do Papa Francisco, o mundo católico entra em luto — e também em ebulição. O fim de um pontificado que sacudiu estruturas e desafiou ortodoxias traz à tona uma pergunta inevitável: quem será o próximo Papa?


Enquanto os olhares se voltam para Roma, o Brasil entra no mapa da sucessão com força. O país conta com oito cardeais, dos quais sete têm direito a voto no conclave, e cinco foram nomeados diretamente por Francisco — o que já diz muito sobre o perfil de Igreja que ele vislumbrava para o futuro. Abaixo, apresento um panorama dos nomes, suas visões e a dinâmica de escolha do novo pontífice.





Como se escolhe um Papa?



O processo é envolto em tradição, simbolismo e estratégia. Participam do conclave apenas os cardeais com menos de 80 anos. Eles se reúnem na Capela Sistina e votam em segredo, quantas vezes forem necessárias, até que um candidato receba dois terços dos votos (hoje, 86 dos 128 cardeais eleitores).


A fumaça branca anunciando “habemus papam” é o resultado de muito mais que orações: é o reflexo de alianças, blocos regionais e embates teológicos sobre o rumo da Igreja.





Quem são os brasileiros no jogo papal?




1. Dom Leonardo Ulrich Steiner (74 anos) – Arcebispo de Manaus



O mais progressista entre os brasileiros. Nomeado por Francisco, é defensor de uma Igreja com rosto amazônico, envolvido com causas ambientais e indígenas. Acolhedor com LGBTQIA+, contrário ao aborto, mas aberto ao diálogo pastoral. É o símbolo da “Igreja em saída” proposta por Francisco.



2. Dom Paulo Cezar Costa (57 anos) – Arcebispo de Brasília



Jovem, com sólida formação acadêmica, é visto como moderado-progressista. Defende diálogo com a sociedade, abertura pastoral aos LGBTQIA+ (sem romper com a doutrina) e tem forte compromisso com a justiça social. Um nome que pode crescer como articulador de consensos.



3. Dom Sérgio da Rocha (65 anos) – Arcebispo de Salvador



Postura conciliadora, voz ativa na CNBB e visão pastoral equilibrada. Defende a doutrina tradicional da Igreja, mas com escuta e sensibilidade. É o clássico “perfil de bastidor”, capaz de somar votos de diversas correntes.



4. Dom Jaime Spengler (64 anos) – Arcebispo de Porto Alegre e presidente da CNBB



Alinha-se à linha de Francisco, mas com um discurso mais institucional. Valoriza o diálogo, é firme em temas como defesa da vida e justiça social. Recentemente ganhou projeção nacional e internacional, o que fortalece sua visibilidade.



5. Dom Odilo Pedro Scherer (75 anos) – Arcebispo de São Paulo



O nome mais conservador da lista. Já foi cotado no conclave anterior. Crítico da Teologia da Libertação, firme contra o aborto e o casamento homoafetivo. Tem forte base na Cúria e pode agradar aos setores que desejam frear as reformas de Francisco.



6. Dom Orani João Tempesta (74 anos) – Arcebispo do Rio de Janeiro



Postura pastoral, discreta, mas com inserção internacional. Moderado, não protagoniza embates, mas é respeitado entre os cardeais. Pode surgir como nome de “consenso” em um cenário polarizado.



7. Dom João Braz de Aviz (77 anos) – Prefeito no Vaticano



Já não tão cotado pela idade e pelo tempo distante do Brasil, mas respeitado pelo tom conciliador. Tem histórico de aproximação com movimentos renovadores da vida religiosa e busca uma Igreja mais próxima das pessoas.





E o Brasil pode ter um Papa?



Pode. Mas o jogo é complexo. A eleição de um papa brasileiro dependerá menos de seu país de origem e mais da capacidade de representar uma síntese da Igreja global. O mais provável, se houver um nome do Sul global, é que seja alguém que encarne o espírito reformista de Francisco, mas com habilidade política para manter a unidade.


Entre os nomes, Dom Leonardo Steiner e Dom Paulo Cezar Costa representam essa renovação com raízes latino-americanas. Já Dom Odilo pode simbolizar um possível freio na guinada iniciada em 2013.




Conclusão

O conclave será muito mais que uma eleição religiosa: será uma escolha entre caminhos. Se a Igreja continuará se abrindo ao mundo ou se voltará ao cerco dogmático; se ouvirá as periferias ou voltará a falar só latim.


O Brasil está no centro dessa disputa. Pela primeira vez com tantos nomes fortes e com a chance, ainda que remota, de ver o primeiro Papa verde e amarelo.


E, mais do que nunca, a fumaça branca que subir da Capela Sistina não trará apenas um nome — trará uma direção


sábado, 19 de abril de 2025

Gilead: quando a distopia vira manual de instruções


Gilead não nasceu do nada. A República fictícia criada por Margaret Atwood em O Conto da Aia é o resultado de uma sequência cronometrada de negligências, crises e oportunismos — algo que qualquer brasileiro atento saberia identificar sem precisar abrir o livro. Crise ambiental, queda de natalidade, terrorismo, medo, e um golpe institucional com respaldo religioso: ingredientes bem conhecidos na história da humanidade.


A Constituição dos Estados Unidos é suspensa, o Judiciário é desmontado, os direitos das mulheres evaporam, e uma nova ordem social passa a reger os corpos — especialmente os femininos — sob o pretexto de uma “reconstrução moral”. Gilead é uma teocracia, mas também um experimento político autoritário travestido de zelo com a família. É um Estado que não governa, doutrina. Que não protege, vigia.


Na geopolítica distópica da obra, o mundo olha para Gilead com o mesmo desconforto com que assistimos a regimes reais que rasgam tratados internacionais e calam dissidentes em nome de tradições, deuses ou pátrias. O Canadá vira rota de fuga. Há resistência interna. E há diplomacia, porque até regimes totalitários sabem sorrir para fotos quando convém.


O mais perturbador é que Atwood não inventou nada. Cada pilar de Gilead tem paralelo histórico: controle de natalidade baseado na fé? Já vimos. Mulheres reduzidas a funções reprodutivas? Também. Supressão de liberdades civis em nome da “moral”? Infelizmente, nada novo.


Gilead, portanto, não é uma ficção sobre o futuro. É um espelho do presente que nos pergunta: até onde deixaremos ir antes de dizer que basta?


 

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Novo protocolo de segurança em Minas Gerais: cidadania desportiva sob nova perspectiva jurídica

Segurança nos Estádios: o Direito em Movimento

Novo protocolo de segurança em Minas Gerais: cidadania desportiva sob nova perspectiva jurídica

A segurança nos estádios é, cada vez mais, tratada como dimensão essencial do direito ao esporte. Mais que uma questão de policiamento, ela representa um compromisso institucional com a integridade física e moral do torcedor. A publicação do novo protocolo estadual em Minas Gerais, em abril de 2025, marca um avanço relevante nessa direção — não apenas no plano operacional, mas também no campo normativo.

Desde a revogação do Estatuto do Torcedor pela Lei Geral do Esporte (Lei nº 14.597/2023), coube ao novo diploma legal consolidar os direitos e deveres do público que frequenta arenas esportivas. O artigo 161 da referida lei impõe expressamente que os responsáveis pela organização dos eventos assegurem padrões mínimos de segurança, incluindo a adoção de tecnologias, presença de equipes de atendimento emergencial e planejamento de evacuação.

O novo protocolo mineiro aprofunda esse entendimento ao prever a classificação dos jogos por nível de risco, com a devida correspondência no dimensionamento do efetivo policial e dos recursos logísticos. Jogos considerados de risco elevado deverão contar com maior aparato de segurança, inclusive com a instalação de perímetros de controle, restringindo o acesso a pessoas com ingresso validado.

Além disso, destaca-se o investimento em monitoramento por imagens de alta definição, elemento cada vez mais central na prevenção de delitos e na responsabilização posterior dos autores. A medida está em consonância com o §2º do artigo 161 da Lei Geral do Esporte, que estimula a adoção de ferramentas tecnológicas de controle e rastreamento, desde que respeitados os direitos fundamentais do torcedor.

É importante observar que a segurança, no ambiente esportivo, deve ser vista como responsabilidade compartilhada entre entes públicos, entidades organizadoras, clubes, fornecedores de serviços e o próprio público. O artigo 8º da Lei nº 14.597/2023 reforça essa lógica de corresponsabilidade e de governança descentralizada, essencial para a eficácia do sistema protetivo.

A adoção de protocolos como o de Minas Gerais indica um movimento necessário: transformar a experiência esportiva em ambiente seguro, acolhedor e digno, afastando o torcedor da zona de risco e devolvendo-lhe a confiança no espaço público do estádio. O direito ao esporte, nesse caso, concretiza-se não apenas pela oferta do espetáculo, mas pela garantia plena de que ele ocorrerá em condições de respeito à vida, à liberdade e à segurança de todos os envolvidos.

Trata-se, enfim, de um passo positivo no processo de institucionalização da cidadania desportiva, que deve ser permanente, transversal e orientada por boas práticas — sempre com base na legalidade, na razoabilidade e no respeito ao torcedor enquanto sujeito de direitos.

quinta-feira, 27 de março de 2025

Filme - Beleza Americana




Beleza Americana: Uma Análise Filosófica da Estética da Crise


Por Gustavo Lopes Pires de Souza


O filme Beleza Americana (American Beauty, 1999), dirigido por Sam Mendes e roteirizado por Alan Ball, é mais do que um drama familiar ambientado nos subúrbios norte-americanos. É uma verdadeira meditação filosófica sobre o sentido da existência, os paradoxos da liberdade, a hipocrisia das convenções sociais e a possibilidade de encontrar beleza em meio à decadência. Este artigo propõe uma análise filosófica da obra, percorrendo caminhos existencialistas, niilistas e estéticos para compreender a mensagem oculta sob a superfície bem-pintada da classe média estadunidense.




1. A liberdade em crise: o existencialismo em Lester Burnham


Lester Burnham, o protagonista, é um homem aprisionado em uma vida sem significado. Sua rotina o consome, seu casamento está falido, e sua relação com a filha é distante. Ao iniciar uma jornada de ruptura com os padrões estabelecidos — pede demissão, passa a se exercitar, desafia normas sociais —, ele encarna o dilema existencialista descrito por Jean-Paul Sartre: o homem está condenado à liberdade. Para Sartre, o sujeito é livre, mesmo quando tenta se esconder atrás das convenções. Lester decide, ainda que tardiamente, reivindicar sua liberdade e buscar autenticidade em uma vida que lhe parecia sufocante.


Contudo, sua libertação é ambígua. Ao mesmo tempo em que se reconecta com seus desejos mais profundos, também se aproxima de atitudes eticamente questionáveis. A liberdade, nos termos de Sartre, não é isenta de responsabilidade — e o filme não nos poupa desse dilema.




2. O vazio de sentido e o niilismo contemporâneo


A casa da família Burnham é bela, organizada e… estéril. Esse contraste entre a aparência e a realidade revela o esvaziamento moral que permeia os personagens. O casamento de fachada, a repressão emocional, o consumo como substituto de afeto e a competitividade como forma de validação são sintomas de uma sociedade que perdeu o eixo.


Essa perspectiva nos aproxima do pensamento de Friedrich Nietzsche, que diagnosticou na modernidade um colapso dos valores tradicionais — a chamada “morte de Deus”. Em Beleza Americana, não há mais transcendência, e os personagens buscam sentido em simulacros: status, poder, juventude, estética. O niilismo emerge como pano de fundo silencioso: todos estão em busca de algo que já não sabem nomear.




3. A beleza no banal: uma estética fenomenológica


Um dos momentos mais emblemáticos do filme é quando Ricky Fitts, o vizinho sensível e marginalizado, mostra a gravação de um saco plástico dançando ao vento. Ele diz:


“Às vezes, há tanta beleza no mundo que eu sinto que não aguento… e meu coração simplesmente vai explodir.”


Essa experiência estética, longe da grandiosidade das artes clássicas, remete à fenomenologia da percepção: a beleza não está no objeto em si, mas na experiência que dele fazemos. Para Ricky, a beleza é uma revelação do mundo — e exige sensibilidade para ser percebida. Em uma sociedade anestesiada pelo consumo, essa visão quase mística da estética é um grito contra a insensibilidade generalizada.




4. Máscaras e inautenticidade: Heidegger e a fuga de si


Todos os personagens escondem suas verdadeiras identidades por trás de máscaras sociais. Carolyn, a esposa de Lester, finge felicidade e sucesso. Angela, a adolescente cobiçada, esconde sua insegurança por trás de uma falsa sensualidade. O coronel Frank, vizinho autoritário, reprime sua sexualidade sob um rígido ideal militar. São retratos de uma existência inautêntica, como propôs Martin Heidegger: ao invés de viver como “ser-no-mundo”, os sujeitos se perdem no “man” — o impessoal, o que os outros esperam.


Heidegger alerta que viver assim é se esquivar da própria verdade. E Beleza Americana mostra as consequências dessa fuga: solidão, sofrimento e alienação.




5. Morte e redenção: a epifania de Lester


O desfecho do filme traz a morte de Lester, assassinado no momento em que parece, paradoxalmente, mais vivo. Ele havia reencontrado prazeres simples, recuperado a conexão com a filha e experimentado uma súbita clareza sobre o que realmente importa. A morte, portanto, não é o fim trágico de um homem frustrado, mas uma espécie de redenção existencial.


O sorriso de Lester ao morrer é a imagem de um sujeito que, ainda que por um breve instante, experimentou a beleza autêntica da vida. Nesse sentido, o filme oferece uma crítica esperançosa: mesmo em meio à mediocridade e ao vazio, é possível romper a superfície e tocar algo verdadeiro.




Conclusão: a beleza como resistência


Beleza Americana é uma obra que transcende sua narrativa para oferecer um espelho perturbador da sociedade contemporânea. Ela nos convida a olhar além da estética superficial e encontrar, na fragilidade do cotidiano, a possibilidade de sentido. É uma denúncia contra a hipocrisia e o niilismo, mas também uma ode à capacidade humana de se reinventar.


A verdadeira beleza, afinal, não está nas formas perfeitas, mas na coragem de enxergar o mundo com olhos sensíveis. Como nos lembra o filme:


“A beleza está em todo lugar. Você só precisa estar disposto a vê-la.”