segunda-feira, 21 de abril de 2025

Brasil no Conclave: quem são os cardeais brasileiros cotados para suceder Francisco e o que pensam sobre temas polêmicos

 


Com a morte do Papa Francisco, o mundo católico entra em luto — e também em ebulição. O fim de um pontificado que sacudiu estruturas e desafiou ortodoxias traz à tona uma pergunta inevitável: quem será o próximo Papa?


Enquanto os olhares se voltam para Roma, o Brasil entra no mapa da sucessão com força. O país conta com oito cardeais, dos quais sete têm direito a voto no conclave, e cinco foram nomeados diretamente por Francisco — o que já diz muito sobre o perfil de Igreja que ele vislumbrava para o futuro. Abaixo, apresento um panorama dos nomes, suas visões e a dinâmica de escolha do novo pontífice.





Como se escolhe um Papa?



O processo é envolto em tradição, simbolismo e estratégia. Participam do conclave apenas os cardeais com menos de 80 anos. Eles se reúnem na Capela Sistina e votam em segredo, quantas vezes forem necessárias, até que um candidato receba dois terços dos votos (hoje, 86 dos 128 cardeais eleitores).


A fumaça branca anunciando “habemus papam” é o resultado de muito mais que orações: é o reflexo de alianças, blocos regionais e embates teológicos sobre o rumo da Igreja.





Quem são os brasileiros no jogo papal?




1. Dom Leonardo Ulrich Steiner (74 anos) – Arcebispo de Manaus



O mais progressista entre os brasileiros. Nomeado por Francisco, é defensor de uma Igreja com rosto amazônico, envolvido com causas ambientais e indígenas. Acolhedor com LGBTQIA+, contrário ao aborto, mas aberto ao diálogo pastoral. É o símbolo da “Igreja em saída” proposta por Francisco.



2. Dom Paulo Cezar Costa (57 anos) – Arcebispo de Brasília



Jovem, com sólida formação acadêmica, é visto como moderado-progressista. Defende diálogo com a sociedade, abertura pastoral aos LGBTQIA+ (sem romper com a doutrina) e tem forte compromisso com a justiça social. Um nome que pode crescer como articulador de consensos.



3. Dom Sérgio da Rocha (65 anos) – Arcebispo de Salvador



Postura conciliadora, voz ativa na CNBB e visão pastoral equilibrada. Defende a doutrina tradicional da Igreja, mas com escuta e sensibilidade. É o clássico “perfil de bastidor”, capaz de somar votos de diversas correntes.



4. Dom Jaime Spengler (64 anos) – Arcebispo de Porto Alegre e presidente da CNBB



Alinha-se à linha de Francisco, mas com um discurso mais institucional. Valoriza o diálogo, é firme em temas como defesa da vida e justiça social. Recentemente ganhou projeção nacional e internacional, o que fortalece sua visibilidade.



5. Dom Odilo Pedro Scherer (75 anos) – Arcebispo de São Paulo



O nome mais conservador da lista. Já foi cotado no conclave anterior. Crítico da Teologia da Libertação, firme contra o aborto e o casamento homoafetivo. Tem forte base na Cúria e pode agradar aos setores que desejam frear as reformas de Francisco.



6. Dom Orani João Tempesta (74 anos) – Arcebispo do Rio de Janeiro



Postura pastoral, discreta, mas com inserção internacional. Moderado, não protagoniza embates, mas é respeitado entre os cardeais. Pode surgir como nome de “consenso” em um cenário polarizado.



7. Dom João Braz de Aviz (77 anos) – Prefeito no Vaticano



Já não tão cotado pela idade e pelo tempo distante do Brasil, mas respeitado pelo tom conciliador. Tem histórico de aproximação com movimentos renovadores da vida religiosa e busca uma Igreja mais próxima das pessoas.





E o Brasil pode ter um Papa?



Pode. Mas o jogo é complexo. A eleição de um papa brasileiro dependerá menos de seu país de origem e mais da capacidade de representar uma síntese da Igreja global. O mais provável, se houver um nome do Sul global, é que seja alguém que encarne o espírito reformista de Francisco, mas com habilidade política para manter a unidade.


Entre os nomes, Dom Leonardo Steiner e Dom Paulo Cezar Costa representam essa renovação com raízes latino-americanas. Já Dom Odilo pode simbolizar um possível freio na guinada iniciada em 2013.




Conclusão

O conclave será muito mais que uma eleição religiosa: será uma escolha entre caminhos. Se a Igreja continuará se abrindo ao mundo ou se voltará ao cerco dogmático; se ouvirá as periferias ou voltará a falar só latim.


O Brasil está no centro dessa disputa. Pela primeira vez com tantos nomes fortes e com a chance, ainda que remota, de ver o primeiro Papa verde e amarelo.


E, mais do que nunca, a fumaça branca que subir da Capela Sistina não trará apenas um nome — trará uma direção


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