Escárnios 2014
Postado em 23/5/2010 às 10:56 por Carlos Eduardo Rangel
Fonte: http://www.trivela.com/Futebol.aspx?secao=157
Postado em 23/5/2010 às 10:56 por Carlos Eduardo Rangel
Fonte: http://www.trivela.com/Futebol.aspx?secao=157
No ano passado, o país teve duas boas notícias para o esporte brasileiro, e por quê não, para o país todo: fomos escolhidos como país-sede de dois dos mega-eventos esportivos mundiais: Copa do Mundo (2014) e Olimpíadas (2016, no Rio de Janeiro). Notícias que certamente alegraram a população e traz a esperança que, com essas confirmações como sede de eventos deste porte, o país aproveite o potencial econômico para deslanchar no cenário mundial, por intermédio desses produtos, certo?
Infelizmente o cenário que se avizinha para os próximos quatro, seis anos, não é esse desenhado acima. Na verdade, mais parece o cenário que vimos nos Jogos Pan-Americanos de 2007, hoje pautado no tribunal de Contas da União devido a fortes indícios de superfaturamento, e poucos legados a serem aproveitados para os próximos eventos em 2014 e 2016. As obras que mais se falam para o primeiro destes eventos, a Copa do Mundo, são as relacionadas à construção e reforma de estádios brasileiros, já objeto de diversas críticas por parte da Fifa.
As estimativas dos custos assustam, e os critérios sobre onde construir esses estádios assustam ainda mais, passando decisivamente pelas escolhas para cidades-sede para jogos da Copa, avaliando pouco a utilidade destes estádios após o evento, e levando mais em conta os lobbys dos Estados interessados em fazer parte da Copa do Mundo. O caso do Engenhão é emblemático: construído para as provas de atletismo dos Jogos Panamericanos de 2007, a previsão de custo, que era de R$ 172 milhões com verbas privadas, passou para R$ 400 milhões, utilizando verbas públicas, sem trazer nenhum legado público à população fluminense (e sim privado para o Botafogo-Rj, que arrenda o estádio atualmente).
Vejam algumas previsões de gastos, em euros para efeito de comparações a serem feitas:
- Brasília (Estádio Nacional) – novo – 70.000 lugares – aprox. 190 milhões de euros
- Cuiabá (Estádio Verdão) – novo – 45.000 lugares – aprox. 146 milhões de euros
- Manaus (Arena Manaus) – novo – 42.000 lugares – aprox. 183 milhões de euros
- Recife (Arena Cidade da Copa) – novo – 46.000 lugares – aprox. 183 milhões de euros
- Rio de Janeiro (Estádio Maracanã) – remodelado – 90.000 lugares – aprox. 157 milhões de euros
- São Paulo (Estádio do Morumbi) – remodelado – 62.000 lugares – aprox. 50 milhões de euros
Dentre estes estádios elencados, o único pertencente a uma entidade privada é o Morumbi (pertencente ao São Paulo), e é também o mais barato e o que possui previsão de investimento privado no seu projeto. O estádio do Maracanã, por ser utilizado regularmente por dois clubes grandes do Estado (Flamengo e Fluminense), possui uma previsão de gastos alta pelas recentes reformas já realizadas, mas pelo seu tamanho torna-se relativamente digerível.
Porém, analisando os projetos de Brasília, Cuiabá, Manaus e Recife, suas previsões de custos, e o fato de nenhum deles ter destinação clara após a Copa (inclusive o de Recife, onde os clubes locais se recusaram a adotar o estádio para seus jogos) é bastante superestimada, analisando os números friamente, e as justificativas dadas pelos responsáveis pelas obras é de se lamentar.
Os estádios modernos recentemente construídos apontam pela necessidade da diversificação de possibilidades de receitas com a estrutura além de jogos de futebol, seja shoppings no entorno, restaurantes, lojas temáticas, estrutura que facilite a chegada a estes locais, além de ser também usado para outros eventos culturais, como shows e concertos.
Para efeito de comparação com os projetos brasileiros, trago um exemplo bom e um exemplo ruim de experiências européias recentes nessa seara: o bom exemplo é o estádio Cornellà-El Prat, construído pelo Espanyol, da Espanha, que custou 80 milhões de euros, e possui capacidade para 40.500 torcedores. Um estádio novo, moderno e barato, construído com recursos da iniciativa privada, sem auxílio do Estado. Já o mal exemplo foi a reconstrução do estádio de Wembley do zero, que custou cerca de 870 milhões de euros, com capacidade para 90 mil pagantes, e é considerado hoje um elefante branco na capital inglesa, devido ao seu custo e pouca utilização.
Pensar em construções de estádios modernos no Brasil, com recursos públicos, sem pensar na viabilidade dessas estruturas para o futuro, é uma temeridade, pois vermos verbas serem aplicadas sem perspectiva de retorno, em detrimento de outras áreas essenciais, como saúde, segurança e transporte, carentes de recursos, mostra bem as quase nulas possibilidades de legados destas construções para a população. Torço para que essa análise esteja errada, que tenhamos aprendido com erros passados e que façamos bom uso desses recursos, mas infelizmente o panorama apresentado hoje é completamente sombrio para o Brasil. Um pecado, para um país com uma vocação enorme para crescer.
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