Só mesmo esse enredo pra nos dar o Mundial
O que diferencia o atleticano de qualquer outro torcedor do mundo é a capacidade que o Galo tem de produzir os roteiros mais inacreditáveis.O Atlético não é um clube de futebol – é Shakespeare, é novela das oito. Se fosse um filme, seria um drama, um épico. Mas, ainda assim, coitada da ficção perto da nossa realidade.
Veja este caso do Ronaldinho. Se alguém o inventasse ia parecer exatamente o que era – mentira.
Mas aconteceu de verdade, e agora nada mais importa na vida do atleticano, a não ser um músculo adutor numa perna esquerda.
Todo dia pela manhã acordaremos torcendo por um tecido em recuperação, e dormiremos do mesmo jeito.
Depois da conquista da Libertadores, depois de uma outra perna esquerda – a perna esquerda de Deus –, imaginei que estávamos livres pra sempre de todos os nossos encostos. Acabara ali a falta de sorte, a má vontade do homem lá em cima, a matemática que sempre nos traiu.
Nas semanas que se seguiram à conquista, o atleticano se perguntou como viveria agora sem a sua cabeça de burro que alguém enterrou – e que, de uma noite pra outra, tinha sido exumada e mandada às favas.
O estádio esvaziou, o atleticano se dividiu. Havia cornetas na veia e torcedores eternamente agradecidos – ambos reivindicando para si a verdade dos fatos.
Aí acontece isso com R10. Por um dia inteiro velei esse músculo adutor como se tivesse perdido um parente. Mandei mensagens, falei com os amigos. Só me faltou chorar.
Acordei neste sábado, porém, um pouco mais atleticano: que se foda tudo, e que se fodam todos! Seremos, como sempre, 8 milhões de médicos a costurar essa coxa até o Mundial.
Se R49 ficou grato porque abraçamos dona Miguelina, ele verá agora, pra valer, o que é ser abraçado pela Massa.
Não importa mais o Cruzeiro na liderança, não importa mais a desclassificação para o Botafogo, não importa mais se a Libertadores é eterna, se é efêmera, blá blá blá.
Só importa essa incrível corrente pra frente. Só importa o Galo e R10, que aprendemos a amar como se fosse um Reinaldo.
Eu não vou celebrar o músculo rompido do Ronaldinho. Lamento, com lágrimas nos olhos. Mas é esse enredo absurdo que vem nos devolver o Galo que o atleticano ama, o Galo que fez de cada um de nós a pessoa que a gente é.
Só um enredo desse pra nos dar o título em dezembro.
Força, Ronaldinho! A Massa está com você, e isso, você já sabe, opera milagres.
Texto de Fred Melo Paiva extraído de http://www.dzai.com.br/fredmelopaiva/blog/atleticano?tv_pos_id=138646
Nenhum comentário:
Postar um comentário