BARCELONA,
RONALDINHO E ELEIÇÕES BRASILEIRAS: ENTENDA
Por Gustavo Lopes Pires de Souza[1]
Após manifestações de artistas internacionais como
Madona e Roger Waters e dentro do futebol brasileiro com Felipe Melo e a
torcida do Atlético, as eleições brasileiras chegam ao futebol internacional.
O Barcelona, segundo o portal espanhol
“EcoDiario.es”:
“ha
decidido desmarcarse de Ronaldinho por su apoyo a Bolsonaro y reducir
drásticamente su presencia en actos como embajador del club. El futbolista solo
cobra por evento al que viaja en tal condición y la decisión en Can Barça ha
sido evitar lo máximo posible que esto suceda.”
Ou seja, o clube catalão, teria decidido reduzir a
presença do craque brasileiro nos eventos oficiais do clube.
O correspondente internacional da Rádio Itatiaia, o
jornalista Marcelo Bechler, destacou em seu twitter que, ao contrário do que parte da imprensa brasileira divulgou, apesar do
Barcelona ser contrário às ideias do candidato Jair Messias Bolsonaro,
Ronaldinho permanece no cargo de embaixador do clube.
Na mesma rede social, Marcelo Bechler, cita
comunicado do portavoz do clube catalão:
"Nossos
valores democráticos não coincidem com as palavras que escutamos sobre este
candidato. De todas as formas, respeitamos a liberdade de expressão, inclusive
as palavras de Ronaldinho".
Ou seja, o Barcelona apesar de discordar de Ronaldinho,
até o momento, honrou a história do clube catalão ao firmar apoio à liberdade
de expressão do craque brasileiro.
Vale destacar que, bob o slogan "mais que um
clube", o Barcelona não representa não apenas os títulos conquistados, mas
a identidade catalã, que vive o sonho separatista e um conflito diplomático
antigo com o governo espanhol.
Mais que um clube porque o Barcelona representa a
cultura e os sentimentos da nação catalã, tanto que em 1921 redigiu seus
estatutos em catalão.
A comunidade autônoma é a mais rica da Espanha e
conta com um PIB de mais de 200 bilhões de euros.
O Barcelona foi símbolo de resistência à ditadura
franquista que subiu ao Poder espanhol após a Guerra Civil Espanhola (1936 a
1939) que custou a vida de meio milhão de espanhóis.
Naquela época, a Catalunha possui grande movimento
anarquista com sindicatos fortes e bem organizados que defendiam um regime
socialista. Além disso, a classe média aderiu a um programa nacional junto ao
País Basco (sede do Atlético de Bilbao) que buscava uma agenda democrática e
liberal. Sem dúvidas, Barcelona era uma cidade-chave de resistência ao Governo
Franquista.
Não bastasse isso, Franco era torcedor fervoroso do
Real Madrid e reservava na TV Estatal mais tempo para cobertura do clube merengue.
A perseguição do regime chegou ao ponto do Barcelona ser a obrigado a excluir
todas as referências catalãs em seu escudo.
O pior momento se deu em agosto de 1936 quando Josep Sunyol i Garriga, então presidente do Barcelona
e deputado de Esquerda Repúblicana de Catalunha (ERC), foi fuzilado em
Guadarrama quando encorajava soldados catalães que lutavam na guerra. O Governo
franquista.
Tal perseguição começou a terminar no início dos
anos 70, quando o regime ditatorial estava bastante enfraquecido.
Assim, é perfeitamente inteligível que,
historicamente, o Barcelona se posicione de forma mais tendente à esquerda.
Entretanto, o mundo já viu Governos ditatoriais que
ultrajavam direitos humanos tanto de esquerda quanto de direita.
Hitler, Franco e Mussolini não foram piores que
Stálin e Mao Tse-Tung.
As ditaduras de direita da Argentina (ditadura
militar - 1973-1983), do Brasil (ditadura militar - 1964-1985), do Chile
(ditadura militar - 1973-1990), do Uruguai
(ditadura militar - 1973-1985) e
da Alemanha (nazismo – 1933 a 1945) mataram tanto quanto as ditaduras de esquerda da URSS (1917
- 1991), da China (Mao Tse-Tung -
1949-1976), de Camboja (Khmer Vermelho – 1975 – 1979)) ou de Cuba (Fidel
Castro – 1959 – 2016).
Há estudos que apontam que somando todas as
ditaduras da América do Sul e o Nazismo, não se chega à metade do número de
mortos da Ditadura de Stalin.
A ditadura socialista do Camboja matou um terço da
população do país, eis que o Ditador Pol
Pot mandou executar não somente toda a oposição, mas buscou fazer uma
verdadeira limpeza genética. Para se ter uma ideia, a miopia era considerada
motivo para uma execução.
Passou da hora de pararmos de estabelecer o todo
pensamento de esquerda como correto e
todo de direita como herança do fascismo e do nazismo.
Ora, ser de esquerda não significa necessariamente
ser genocida como o cambojado Pol Pot ou sanguinário como Hitler.
Jair Bolsonaro, pela primeira vez na história do
Brasil pós redemocratização, traz uma agenda de direita e seu Plano de Governo
não traz qualquer indício discriminatório ou ditatorial, pelo contrário.
Manifestações polêmicas e de desagrado à segmentos
sociais são comuns no debate de ideias. Da mesma forma que Bolsonaro, Fernando
Haddad e Lula também já tiveram ma nifestações polêmicas.
Chegou o momento de se derrubar os rótulos e de se
buscar a União. Catalunha é Espanha e Espanha é Catalunha. Nordeste é Brasil e
Brasil é Nordeste. Governantes passarão, mas a nação sempre ficará.
Desde que de forma democrática, a alternância de
governos é saudável. Se a Direita se preocupa com pautas econômicas, é bom que
venha depois a esquerda com pautas sociais. Se a esquerda possui agendas que
preocupam-se menos com o controle de gastos, que venha a direita depois com
agendas austeras para permitir que a esquerda volte e possa prosseguir
investindo no social.
O mundo é plurifacetado. As ideias também.
Tenho a certeza que o grande clube catalão que é
mais que um clube, não se apequenará e não se curvará à intolerância a às mágoas que
a direita ditatorial franquista deixou marcadas na sua alma e continuará
ovacionando o grande Ronaldinho que é parte de sua história porque ele defende
democraticamente ideologia diversa.
Ao contrário do que parece, tanto Jair Bolsonaro,
quanto Fernando Haddad, são seres-humanos com família que, cada um ao seu modo
ideológico e de experiência de vida, querem o melhor para o Brasil e para o
povo brasileiro.
Que o mundo do futebol se posicione porque é sim
importante se posicionar, mas, mais importante do se posicionar, o mundo do
futebol tem o DEVER de tolerar o diferente e promover a paz e o amor independentemente
da cor da camisa.
[1] Palestrante;
Professor; Consultor e Parecerista; Mestre e Doutorando em Direito Desportivo
pelo INEFC - Institut Nacional d'EducaciónFisica de Catalunya/Universitat de
Lleida (Espanha). Cadeira nº 36 da Academia Nacional de Direito Desportivo
(ANDD). Presidente do Instituto Mineiro de Direito Desportivo (IMDD). Vice-Presidente do Instituto Brasileiro de
Direito Desportivo (IBDD); Conselheiro da Sociedade Brasileira de Direito
Desportivo (SBDD); Presidente do Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol Americano
de Minas Gerais;Coordenador Científico da Especialização em Gestão do Esporte e
Direito Desportivo da Faculdade Brasileira de Tributação; Professor de Direito
Desportivo convidado na Universidad de Lleida (Espanha), na Universidade del
Litoral (Argentina), Universidaddel Este (Paraguay) e Université de Limoges
(França). Ex- coordenador e ex-professor (Direito Civil e Constitucional) do
curso de Direito da Faculdade de Direito de Contagem. Professor de Direito
Público no Mega Concursos. Auditor do STJD da Confederação Brasileira de Atletismo.
Colunista de Direito Desportivo na rádios Itatiaia e de Política, Economia e
Questões Legais nas rádios Alternativa e PLFM; Autor de livros e artigos sobre
Direito Desportivo. Agraciado em 2016 com a Cruz do Mérito do Empreendedor
Juscelino Kubitschek - Personalidade Brasileira do Ano - Segurança Pública,
Academia Brasileira de Honrarias ao Mérito / Ministérios dos Esportes /
Ministério da Justiça.
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