terça-feira, 11 de março de 2025

E Se o Brasil Se Filiasse à Concacaf? O Que Mudaria no Futebol Brasileiro


 E Se o Brasil Se Filiasse à Concacaf? O Que Mudaria no Futebol Brasileiro

Diante dos ultimos incidentes de racismo na Libertadores Sub-20 e da branda punição da Conmebol, a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, levantou a ideia do Brasil se desfiliar da Conmebol e passar a compor a Concacaf.

A ideia pode parecer absurda à primeira vista, mas acredite: não seria a primeira vez que um país trocaria de confederação continental no futebol. 

Se a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decidisse sair da Conmebol e se juntar à Concacaf, o impacto seria gigantesco – tanto para a Seleção Brasileira quanto para os clubes do país. Mas será que isso é possível? E quais seriam as consequências práticas dessa mudança?

Trocar de Confederação? Já Aconteceu Antes

Apesar de soar como um devaneio, outros países já fizeram movimentos semelhantes. O caso mais emblemático é o da Austrália, que até 2006 fazia parte da Confederação de Futebol da Oceania (OFC), mas decidiu se juntar à Confederação Asiática de Futebol (AFC). O motivo? A OFC não tinha vaga direta para a Copa do Mundo, e a Austrália sempre precisava disputar repescagens complicadas contra seleções da América do Sul ou da Ásia. Com a mudança, os australianos passaram a competir contra seleções asiáticas, facilitando sua classificação para o Mundial.

Outro exemplo interessante é Israel, que, por questões geopolíticas, já passou por diversas confederações. Inicialmente, Israel fazia parte da AFC (Ásia), mas foi expulso devido a boicotes de países árabes. Durante anos, disputou eliminatórias em diferentes regiões, até que, em 1994, foi oficialmente aceito na UEFA (Europa), onde joga até hoje.

Ambos os casos mostram que mudanças de confederação são possíveis, mas precisam de justificativas fortes e do aval da FIFA.

O Que Aconteceria Se o Brasil Entrasse na Concacaf?

Se a CBF decidisse sair da Conmebol e se filiar à Concacaf, tudo mudaria. Vamos imaginar esse cenário:

1. Eliminatórias para a Copa do Mundo

Ao invés de enfrentar Argentina, Uruguai e Colômbia em um formato longo e competitivo, o Brasil passaria a disputar as eliminatórias contra México, Estados Unidos, Canadá e seleções da América Central e Caribe. Atualmente, a Concacaf adota um formato de Hexagonal ou Octogonal final, onde as melhores seleções brigam por vagas diretas no Mundial.

Na prática? O Brasil teria um caminho muito mais fácil para se classificar. A competitividade seria menor e a classificação para a Copa seria quase garantida.

2. Competições de Seleções

O Brasil deixaria de jogar a Copa América, uma competição tradicional, para disputar a Copa Ouro, torneio da Concacaf. Embora seja um título oficial, a Copa Ouro tem um nível técnico muito inferior ao da Copa América, pois é dominada por México e Estados Unidos.

Além disso, a Seleção Brasileira poderia ser integrada à Liga das Nações da Concacaf, o que mudaria completamente o calendário de amistosos e competições da equipe.

3. Impacto para os Clubes Brasileiros

Os clubes brasileiros deixariam de jogar a Libertadores e a Copa Sul-Americana, trocando essas competições pela Liga dos Campeões da Concacaf (Concachampions). O problema? A Concachampions tem um nível técnico inferior e não gera a mesma visibilidade e receita que a Libertadores. Em outras palavras, clubes como Flamengo, Palmeiras e Atlético Mineiro não enfrentariam mais Boca Juniors ou River Plate, mas sim times como Monterrey e LAFC.

A mudança também afetaria o Mundial de Clubes, pois a Libertadores dá ao campeão sul-americano um prestígio muito maior do que a Concachampions, que raramente consegue competir de igual para igual com os europeus.

Seria Possível? O Que Dizem os Regulamentos da FIFA

Para que o Brasil mudasse de confederação, seria necessário seguir um processo formal dentro da FIFA. O Estatuto da FIFAestabelece que cada federação nacional deve estar filiada à confederação correspondente à sua localização geográfica. No entanto, existem exceções, como os casos de Austrália e Israel, que mostraram que mudanças são possíveis quando há razões justificáveis.

A saída do Brasil da Conmebol exigiria:

• Um pedido formal da CBF à FIFA, justificando a mudança. 
• Aprovação da Concacaf, que teria que aceitar a entrada da CBF. 
• Consentimento da Conmebol, o que seria improvável, já que o Brasil é um dos maiores geradores de receita da entidade. 

Além disso, a FIFA teria que avaliar se essa mudança beneficiaria o futebol globalmente ou se causaria desequilíbrio nas competições.

Conclusão: Vale a Pena?

A mudança para a Concacaf facilitaria a vida da Seleção Brasileira nas eliminatórias e abriria novas oportunidades para competições, mas teria um grande custo. O futebol sul-americano perderia um de seus gigantes, os clubes brasileiros jogariam torneios menos prestigiados, e a rivalidade histórica contra Argentina e Uruguai ficaria comprometida.

No final das contas, a ideia é curiosa, mas pouco viável. A Conmebol jamais aceitaria perder o Brasil, e a FIFA dificilmente aprovaria uma mudança que prejudicaria tanto as competições continentais.

Mas se um dia a CBF resolver levar essa ideia a sério, já sabemos que o caminho não é impossível – só bem complicado.

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