Vale Tudo: O Brasil de 1988 x O Brasil de 2025 – O Que Realmente Mudou?
A novela Vale Tudo (1988), um dos maiores clássicos da teledramaturgia brasileira, ganha um remake em 2025, e isso abre um interessante espaço para comparar o Brasil da época com o atual. Escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, a trama é um retrato ácido da sociedade brasileira, abordando temas como corrupção, impunidade, desigualdade social e ética.
Brasil em 1988 vs. Brasil em 2025
1. Corrupção e impunidade
Em 1988, o Brasil vivia a transição da ditadura para a democracia e experimentava uma nova Constituição, tentando instaurar valores republicanos e democráticos. A corrupção já era um tema central no país, mas as investigações eram menos sofisticadas, e o combate à impunidade ainda engatinhava. Vale Tudo questionava se a honestidade valia a pena em um país onde os desonestos sempre pareciam levar a melhor — algo exemplificado pela icônica vilã Odete Roitman.
Em 2025, o Brasil amadureceu institucionalmente, mas a desconfiança na política permanece. Após escândalos sucessivos de corrupção ao longo das décadas, a população vive uma polarização intensa, e a sensação de impunidade ainda é forte. O remake certamente pode explorar como a corrupção se sofisticou, com laranjas, offshores e mecanismos financeiros mais elaborados para desviar dinheiro.
2. Desigualdade social e meritocracia
Em 1988, o Brasil vivia sob uma economia instável, com hiperinflação e um abismo social evidente. A protagonista, Raquel Accioli, era um exemplo de brasileira batalhadora, que tentava vencer na vida de maneira honesta, mas enfrentava uma elite que jogava com outras regras.
Em 2025, a desigualdade social ainda é um problema central. Embora tenhamos mais acesso à educação e tecnologia, a mobilidade social continua limitada, e o Brasil segue como um dos países mais desiguais do mundo. A novela pode atualizar esse contexto, trazendo discussões sobre o neoliberalismo, a precarização do trabalho e o impacto da digitalização na economia.
3. A ascensão do individualismo e das redes sociais
Em 1988, a televisão era o grande veículo de comunicação e formava opinião de maneira centralizada. O final aberto de Vale Tudo, onde ninguém sabia quem matou Odete Roitman, causou uma comoção nacional.
Em 2025, as redes sociais têm um papel crucial na formação de narrativas, muitas vezes distorcendo a realidade e promovendo julgamentos instantâneos. A novela pode explorar como a internet amplifica escândalos e como a polarização digital influencia a ética das pessoas, tornando as “Odete Roitmans” da vida real ainda mais poderosas ou vulneráveis à opinião pública.
4. A moralidade e a inversão de valores
O dilema central da novela – “vale a pena ser honesto no Brasil?” – continua tão relevante quanto em 1988. O remake pode aprofundar esse debate ao incluir figuras contemporâneas que representam tanto o oportunismo quanto a resistência moral, questionando até que ponto o jogo político, econômico e social permite a ascensão dos justos em um ambiente hostil.
Conclusão
O remake de Vale Tudo tem tudo para ser um espelho do Brasil contemporâneo, assim como foi a versão original nos anos 80. A grande questão continua sendo a mesma: num país onde quem age com ética parece estar em desvantagem, vale a pena ser honesto?
A resposta, talvez, dependa de quem estiver assistindo.
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