Balneário Camboriú: Entre o Glamour e os Preconceitos do Brasileiro
Por Gustavo Lopes Pires de Souza
Balneário Camboriú se consolidou como um dos destinos mais badalados do Brasil, ostentando arranha-céus à beira-mar, festas exclusivas e um estilo de vida que mescla ostentação e lazer. Não por acaso, virou tema do hit “Vai Descer”, uma celebração (ou sátira) desse glamourizado estilo de vida. Mas o sucesso e a idolatria a Balneário talvez revelem mais sobre o brasileiro do que uma simples preferência por luxo e modernidade: expõem uma relação complexa com o próprio território, marcada por preconceitos e contradições.
Indiscutivelmente, o Nordeste abriga algumas das praias mais belas do mundo. Cenários paradisíacos como Maragogi, Jericoacoara e Porto de Galinhas, com suas águas mornas e natureza exuberante, são o retrato do que muitos estrangeiros identificam como o ápice da beleza tropical. Ainda assim, esses destinos, que deveriam ser motivo de orgulho nacional, nem sempre recebem a valorização devida pelo próprio brasileiro.
É difícil ignorar que o deslumbramento com Balneário Camboriú e outros destinos “urbanizados” carrega, de forma velada, um olhar preconceituoso em relação ao Nordeste. O brasileiro, muitas vezes, associa o Nordeste a uma visão caricatural, resumindo-o à pobreza ou ao folclore, enquanto exalta destinos que reproduzem um modelo europeu de sofisticação. A preferência por praias “concretadas”, repletas de shoppings e alta gastronomia, em detrimento da simplicidade deslumbrante do Nordeste, reflete uma busca por status, como se o luxo validasse a experiência turística.
Esse fenômeno também revela a dificuldade do brasileiro em valorizar o que é autenticamente seu. Preferimos projetar uma identidade importada, que mistura Miami com Dubai, ao invés de abraçar a riqueza cultural, histórica e natural que define nosso país. Assim, o preconceito contra o Nordeste não se manifesta apenas em discursos ou atitudes explícitas, mas também na forma como priorizamos destinos que parecem “menos brasileiros” — e, por isso, mais desejáveis.
A idolatria a Balneário Camboriú não é, em si, um problema. O problema está em como essa escolha frequentemente vem acompanhada de uma desvalorização do que é genuinamente nosso. Talvez seja hora de repensarmos nossos destinos e, mais importante, nossos preconceitos, para que o turismo seja também uma celebração da diversidade e da riqueza que existe em cada canto do Brasil. Afinal, o Nordeste, com suas águas quentes e hospitalidade única, é muito mais do que um destino. É um símbolo de tudo o que o Brasil tem de mais belo — e que merece ser visto sem filtros ou estereótipos.
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